Carlos Augusto Brandão para a Italiamiga
O compositor italiano Nino Rota teria feito 90 anos no último dia do ano que passou. Ele não está mais entre nós, mas sua música permanece como uma das mais belas e eternas da história do cinema. Rota nasceu em Milão em 1911 e, criança prodígio, com apenas 11 anos compôs um oratório - A Infância de São João Batista. Após completar seus estudos na Academia de Santa Cecília de Roma, ele escreveu sinfonias, óperas, diversos concertos e trilhas de balé antes de chegar ao cinema, com 22 anos, onde permaneceu até sua morte aos 68 anos em 1979. Sua primeira trilha foi para o filme Treno Popolare, de Raffaelo Matarazzo de 1933. Mas seu primeiro grande sucesso foi a trilha para Noites de Cabíria em 57, uma das diversas obras primas de Federico Fellini, sobre a história tocante da prostituta Cabíria, seus sonhos, suas ilusões e desapontamentos. Cabíria sonha com o príncipe encantado, mas continua vivendo na marginalidade cercada de gigolôs. A trilha de Nino Rota conseguiu captar à perfeição toda a desilusão de Cabíria e também a poesia que envolve o filme. Em 60, Rota teve outro grande sucesso com a trilha para o filme A Doce Vida, também de Fellini, com quem fez uma das dobradinhas diretor/compositor mais perfeitas da história do cinema, iniciada em 52 com O Sheik Branco e que perdurou até 79, com Ensaio de Orquestra. A Doce Vida é um clássico do cinema marcado pelo desempenho inesquecível de Marcello Mastroianni, pela cena em que Anita Ekberg se banha na Fontana di Trevi e também pela música marcante de Nino Rota.
Rota foi diretor do importante Conservatório de Bari por 37 anos. Suas trilhas são caracterizadas por uma grande simplicidade e geralmente possuem uma linha melódica que fica guardada na memória das pessoas. Trabalhou com grandes diretores do cinema, como King Vidor (Guerra e Paz), Visconti (O Leopardo) e Zefirelli (Romeu e Julieta) , mas seus trabalhos mais notáveis certamente foram com Fellini com quem fez Boccacio 70, A Estrada, Os Boas Vidas, Satyricon, Oito e Meio, Julieta dos Espíritos e especialmente Amarcord, onde nos brindou com uma das músicas mais belas e nostálgicas do cinema . Em 74, a Academia de Hollywood rendeu-se ao talento de Rota, dando a ele o Oscar pela trilha musical de O Poderoso Chefão II, premiando uma carreira memorável que inclui ainda clássicos como Obsessão e Rocco e seus Irmãos, entre outros. Sua última trilha para o cinema foi para o filme Ernesto, de Salvatore Samperi, feita juntamente com Carmelo Bernaola. Muitos diretores, no entanto, continuaram - e certamente ainda continuarão - utilizando as canções de Rota em seus filmes : este foi o caso de Almodóvar em Labirinto de Paixões, do próprio Fellini em A Entrevista e de Francis Ford Coppola em O Poderoso Chefão III, repetindo o sucesso que a música do extraordinário compositor tinha dado à sua trilogia. Em novos filmes e nos antigos, a música de Rota permanecerá sempre na cabeça dos cinéfilos em momentos comoventes como - só para citar alguns - a cena final de Oito e Meio, com os personagens se movendo num picadeiro ao som de sua música ou nas lembranças da infância de Fellini, embaladas pelas notas personalíssimas de Rota em Amarcord.
http://www.italiamiga.com.br